Prestação de serviço: cães passam por treinamentos e se tornam trabalhadores eficientes, com carga horária, dias de folga e aposentadoria
Daniela Nucci
daniela.nucci@rac.com.br
O melhor amigo do homem é também um bom trabalhador. Muitos cães têm rotina típica de um funcionário comum, com horário para cumprir e treinamentos intensos para se especializar na área de atuação à qual estão destinados. Entre as atividades em que se destacam, a mais conhecida é a de soldado da Polícia Militar. Os cachorros atuam em operações de busca a criminosos, procura por entorpecentes e explosivos, e de ataque e guarda.
Outro posto que os cães assumem com competência está ligado ao bem-estar de crianças e adultos em entidades beneficentes e hospitais. A presença dos animais nesses ambientes contribui para melhorar a auto-estima e o estado clínico geral dos atendidos. A troca de afeto tem efeitos psicológicos importantes que ajudam na recuperação dos pacientes, atestam especialistas. Os benefícios são constatados pelo projeto Criança e Cão em Ação, criado em março de 2005. Silvia Ribeiro Jansen Ferreira, coordenadora do projeto, diz que os cachorros são ótimos aprendizes e observa que os resultados desse tipo de “terapia” são gratificantes.
Para os deficientes visuais, a companhia de um cão-guia pode significar acesso a uma vida com menos privações e mais autonomia. O cachorro é preparado para ser “os olhos” do seu companheiro e, como qualquer trabalhador, tem direito a dias de folga e aposentadoria.
Amigos voluntários
Os animais que integram o projeto Criança e Cão em Ação visitam instituições e hospitais uma vez por semana, a exemplo do Hospital Municipal Dr. Mário Gatti. Os cachorros usam uniformes e antes de entrarem em serviço tomam banho e lavam as patas com anti-séptico. Após cumprir o protocolo de limpeza, iniciam o trabalho que consiste em passar uma hora e meia alegrando os pacientes. O projeto existe desde 2005 e conta com cães de várias raças, como pastor shetland, lhasa apso, são-bernardo e labrador.
Os efeitos são perceptíveis. Larissa, de 5 anos, vive no hospital Mário Gatti desde que nasceu. A criança recebe a visita dos animais há um ano e reage positivamente ao “tratamento”. “Ela melhorou em tudo. Mexe a língua imitando os cães e manda beijo”, diz a mãe Lucicléia Carvalho, de 27.
Outra criança que se beneficia com a visita dos voluntários é a vaidosa Lidiana, de 3 anos, que fica em tempo integral no hospital. “Ela se arruma toda para receber os cachorros, em especial a Shiva, a lhasa apso, que é o xodó dela. O trabalho é muito importante para todos nós porque é um momento de alegria”, afirma Luzinete Granja Cerrano, de 42, mãe da menina. O primeiro sorriso de David, de 2 anos, foi motivado pelo trabalho dos cães. “Ele sabe quando os cachorros vêm aqui. É uma alegria só. Nós também nos divertimos muito”, diz a mãe Edineide Adelina Nunes, de 35 anos.
Os pacientes que ficam na área dos leitos também são agraciados com a alegria dos animais. Taís Araújo, de 12 anos, deve muito da sua disposição após uma cirurgia ao projeto Criança e Cão em Ação. “Gosto de cachorro e tenho um em casa. Acho legal o trabalho deles”, diz. Entre os voluntários que não perdem um dia de trabalho estão Skol, cadela da raça pastor shetland, Shiva, uma lhasa apso, e Luna, da raça são-bernardo.
Mantendo contato
O Criança e Cão em Ação é um dos projetos da Organização Atividade, Terapia, Educação Assistidas por Animais de Campinas (Ateac). A experiência pessoal de Silvia Ribeiro Jansen Ferreira deu início ao projeto. O filho Daniel, de 32 anos, tem Síndrome de Asperger (autismo de alto funcionamento) e apresentava muita dificuldade para interagir com cães até o momento em que ganhou Luana, uma cadela da raça labrador. Hoje, o animal tem três anos e meio.
Ao conviver com Luana, Daniel perdeu o medo que tinha de cães, passou a manter contato visual e aprendeu a abraçá-la. “Foi então que comecei a prestar atenção na importância do animal na vida do ser humano”, diz Silvia.
O projeto atua em três frentes. A primeira, Atividade Assistida por Animais (AAA), envolve o cão e o proprietário em atividades sociais, distração, recreação e integração para o bem-estar e melhora dos pacientes. A segunda, Terapia Assistida por Animais (TAA), é um processo terapêutico formal, guiado por profissionais para atingir resultados que serão medidos e analisados. Por fim, há a Educação Assistida por Animais (EAA), que é a inserção do animal no processo da aprendizagem formal, com acompanhamento de pedagogas que vão à creche Mãe Luiza, uma vez por semana.
O cão cumpre a função de co-terapeuta e é um elo para a atuação de fisioterapeutas, psicólogos, fonoaudiólogos e pedagogos. Nas AAAs em hospitais, são feitas visitas aos enfermos, para diminuir o estresse das internações.
Há três tipos de voluntários: voluntário e o seu cão, voluntário sem cão (geralmente da área de saúde, veterinária ou educação) e cão voluntário (que é cadastrado e testado, mas o dono não dispõe de tempo para acompanhar o treinamento). Podem participar pessoas de todas as idades, das mais diversas profissões.
O interessado doa, no mínimo, uma hora e meia por semana ao projeto. Passa por uma entrevista com coordenadores e participa de palestras com psicólogo, fisioterapeuta, veterinário e especialista em comportamento animal, todos também voluntários.
Hoje, 54 voluntários atuam em diferentes espaços: Casa da Criança Paralítica, Pestalozzi de Campinas (deficiências múltiplas), Associação para o Desenvolvimento dos Autistas em Campinas (Adacamp), Centro de Educação e Vivência (Cevi), predominantemente autistas, e Hospital Municipal Dr. Mário Gatti (no setor da pediatria). A entidade desenvolve ainda o Projeto Bom Amigo, com idosos do Lar dos Velhinhos de Campinas, e a creche Mãe Luiza.
O voluntário que quiser ter o cão no programa deve levá-lo a uma das clínicas veterinárias que participam do projeto. Carteira de vacinação é indispensável. No local, é feita uma avaliação física e de comportamento. São realizados testes para observar o temperamento do animal em qualquer situação. Raças como pit bull, rottweiler, mastiff e seus semelhantes não são utilizadas. As outras são bem-vindas, desde que aprovadas por veterinários e adestradores.
Daniela Nucci
daniela.nucci@rac.com.br
O melhor amigo do homem é também um bom trabalhador. Muitos cães têm rotina típica de um funcionário comum, com horário para cumprir e treinamentos intensos para se especializar na área de atuação à qual estão destinados. Entre as atividades em que se destacam, a mais conhecida é a de soldado da Polícia Militar. Os cachorros atuam em operações de busca a criminosos, procura por entorpecentes e explosivos, e de ataque e guarda.
Outro posto que os cães assumem com competência está ligado ao bem-estar de crianças e adultos em entidades beneficentes e hospitais. A presença dos animais nesses ambientes contribui para melhorar a auto-estima e o estado clínico geral dos atendidos. A troca de afeto tem efeitos psicológicos importantes que ajudam na recuperação dos pacientes, atestam especialistas. Os benefícios são constatados pelo projeto Criança e Cão em Ação, criado em março de 2005. Silvia Ribeiro Jansen Ferreira, coordenadora do projeto, diz que os cachorros são ótimos aprendizes e observa que os resultados desse tipo de “terapia” são gratificantes.
Para os deficientes visuais, a companhia de um cão-guia pode significar acesso a uma vida com menos privações e mais autonomia. O cachorro é preparado para ser “os olhos” do seu companheiro e, como qualquer trabalhador, tem direito a dias de folga e aposentadoria.
Amigos voluntários
Os animais que integram o projeto Criança e Cão em Ação visitam instituições e hospitais uma vez por semana, a exemplo do Hospital Municipal Dr. Mário Gatti. Os cachorros usam uniformes e antes de entrarem em serviço tomam banho e lavam as patas com anti-séptico. Após cumprir o protocolo de limpeza, iniciam o trabalho que consiste em passar uma hora e meia alegrando os pacientes. O projeto existe desde 2005 e conta com cães de várias raças, como pastor shetland, lhasa apso, são-bernardo e labrador.
Os efeitos são perceptíveis. Larissa, de 5 anos, vive no hospital Mário Gatti desde que nasceu. A criança recebe a visita dos animais há um ano e reage positivamente ao “tratamento”. “Ela melhorou em tudo. Mexe a língua imitando os cães e manda beijo”, diz a mãe Lucicléia Carvalho, de 27.
Outra criança que se beneficia com a visita dos voluntários é a vaidosa Lidiana, de 3 anos, que fica em tempo integral no hospital. “Ela se arruma toda para receber os cachorros, em especial a Shiva, a lhasa apso, que é o xodó dela. O trabalho é muito importante para todos nós porque é um momento de alegria”, afirma Luzinete Granja Cerrano, de 42, mãe da menina. O primeiro sorriso de David, de 2 anos, foi motivado pelo trabalho dos cães. “Ele sabe quando os cachorros vêm aqui. É uma alegria só. Nós também nos divertimos muito”, diz a mãe Edineide Adelina Nunes, de 35 anos.
Os pacientes que ficam na área dos leitos também são agraciados com a alegria dos animais. Taís Araújo, de 12 anos, deve muito da sua disposição após uma cirurgia ao projeto Criança e Cão em Ação. “Gosto de cachorro e tenho um em casa. Acho legal o trabalho deles”, diz. Entre os voluntários que não perdem um dia de trabalho estão Skol, cadela da raça pastor shetland, Shiva, uma lhasa apso, e Luna, da raça são-bernardo.
Mantendo contato
O Criança e Cão em Ação é um dos projetos da Organização Atividade, Terapia, Educação Assistidas por Animais de Campinas (Ateac). A experiência pessoal de Silvia Ribeiro Jansen Ferreira deu início ao projeto. O filho Daniel, de 32 anos, tem Síndrome de Asperger (autismo de alto funcionamento) e apresentava muita dificuldade para interagir com cães até o momento em que ganhou Luana, uma cadela da raça labrador. Hoje, o animal tem três anos e meio.
Ao conviver com Luana, Daniel perdeu o medo que tinha de cães, passou a manter contato visual e aprendeu a abraçá-la. “Foi então que comecei a prestar atenção na importância do animal na vida do ser humano”, diz Silvia.
O projeto atua em três frentes. A primeira, Atividade Assistida por Animais (AAA), envolve o cão e o proprietário em atividades sociais, distração, recreação e integração para o bem-estar e melhora dos pacientes. A segunda, Terapia Assistida por Animais (TAA), é um processo terapêutico formal, guiado por profissionais para atingir resultados que serão medidos e analisados. Por fim, há a Educação Assistida por Animais (EAA), que é a inserção do animal no processo da aprendizagem formal, com acompanhamento de pedagogas que vão à creche Mãe Luiza, uma vez por semana.
O cão cumpre a função de co-terapeuta e é um elo para a atuação de fisioterapeutas, psicólogos, fonoaudiólogos e pedagogos. Nas AAAs em hospitais, são feitas visitas aos enfermos, para diminuir o estresse das internações.
Há três tipos de voluntários: voluntário e o seu cão, voluntário sem cão (geralmente da área de saúde, veterinária ou educação) e cão voluntário (que é cadastrado e testado, mas o dono não dispõe de tempo para acompanhar o treinamento). Podem participar pessoas de todas as idades, das mais diversas profissões.
O interessado doa, no mínimo, uma hora e meia por semana ao projeto. Passa por uma entrevista com coordenadores e participa de palestras com psicólogo, fisioterapeuta, veterinário e especialista em comportamento animal, todos também voluntários.
Hoje, 54 voluntários atuam em diferentes espaços: Casa da Criança Paralítica, Pestalozzi de Campinas (deficiências múltiplas), Associação para o Desenvolvimento dos Autistas em Campinas (Adacamp), Centro de Educação e Vivência (Cevi), predominantemente autistas, e Hospital Municipal Dr. Mário Gatti (no setor da pediatria). A entidade desenvolve ainda o Projeto Bom Amigo, com idosos do Lar dos Velhinhos de Campinas, e a creche Mãe Luiza.
O voluntário que quiser ter o cão no programa deve levá-lo a uma das clínicas veterinárias que participam do projeto. Carteira de vacinação é indispensável. No local, é feita uma avaliação física e de comportamento. São realizados testes para observar o temperamento do animal em qualquer situação. Raças como pit bull, rottweiler, mastiff e seus semelhantes não são utilizadas. As outras são bem-vindas, desde que aprovadas por veterinários e adestradores.
Fonte: Revista Metropole (publicada em 03/08/08)
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