domingo, 3 de outubro de 2010

Notícia Correio Popular de Campinas: Cães Terapeutas dão injeção de ânimo



ONG criada há seis anos em Campinas promove encontros em entidades e hospitais públicos




A solidariedade também se faz levando carinho, estratégias para aumentar a autoestima e, sem querer e mesmo que devagar, terapia de uma forma alternativa. Pelo menos é a isso que se propõe o Instituto para Atividades, Terapias e Educação Assistida por Cães (Ateac), organização não governamental (ONG) fundada há seis anos em Campinas pela bióloga e geneticista Sílvia Jansen. A preparação de cães que possam atuar como terapeutas e a disposição em oferecer essa forma de tratamento a entidades e hospitais públicos de forma gratuita fazem com que cerca de 1,1 mil pessoas todos os meses se beneficiem do contato
A Ateac surgiu a partir da experiência de vida da própria Sílvia. Ela tem um filho, Daniel, que tem síndrome de asperger, uma deficiência próxima do autismo, mas que não traz dificuldades cognitivas, o que permitiu, por exemplo, ao rapaz, que hoje tem 32 anos, defender um mestrado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) na área de biologia marinha. “Sempre tivemos cães em casa, mas o Daniel tinha medo, não interagia, não se interessava. Até que um dia meu outro filho ganhou um labrador”, lembra a bióloga.
A chegada do novo animal a casa foi uma grande descoberta na família. Aos poucos, Daniel começou a se aproximar do cachorro, cuja raça tem, entre suas características, ser dócil e adorar uma brincadeira. “Um amigo adestrador começou a perceber como o Daniel interagia com o cão. Com o passar do tempo, notei que ele melhorava a sua forma de interação, estava menos ansioso. O cão ajudou a dar a ele equilíbrio e estabilidade”, conta Sílvia.
Contente com os resultados e sempre envolvida com questões ligadas ao autismo e a outras síndromes do mesmo grupo, a bióloga foi procurar informação. Frequentou ONGs paulistanas que trabalham com terapia com animais, além de participar de um curso de zooterapia na Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de São Paulo (USP). Do envolvimento, surgiu a Ateac, que, nos primeiros tempos, só atendia duas instituições de Campinas. Hoje, são dez, com visitas semanais e 64 voluntários.
Por sinal, é preciso muita gente para manter o projeto vivo: cada cão participante tem um custo com limpeza e protocolos de higienização de cerca de R$ 5 mil mensais, tudo por meio de doação e de parcerias, como a do Hospital Veterinário Taquaral, que realiza gratuitamente os exames periódicos nos bichos, e da indústria Natural, que fornece a alimentação.

Voluntariado

Há três formas de atuação na Ateac. Um primeiro grupo é formado por gente como a própria Sílvia, que tem cães e os envolvem nas atividades. Uma segunda forma de participação são pessoas que apenas oferecem seus animais, mas não frequentam as instituições. O terceiro grupo é formado por profissionais como veterinários, psicólogos, pedagogos, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais que acompanham as visitas e ajudam no preparo dos cachorros e dos pacientes.
Todos os animais passam por um cadastro antes de irem para o “trabalho”. De seis em seis meses, fazem exame de fezes e de sangue, e precisam passar por banhos de desinfecção antes de qualquer atividade. Todos também são submetidos a um treinamento antes de integrar o projeto.
No caso das visitas nos dois hospitais atendidos pela ONG, o Mário Gatti e o Ouro Verde, o processo é ainda mais rigoroso: o banho dos animais e a limpeza das patas seguem protocolos próprios de sala cirúrgica. Cães com queda de pelos, com problemas nos dentes, inclusive tártaro, ou cadelas no cio são proibidos de participar das atividades. Todas as raças podem integrar o projeto, com exceção daquelas que, por lei, exigiriam o uso de focinheiras, como os pit-bulls.

Estranhamento

No trabalho da ONG, de acordo com Sílvia, o primeiro contato com os pacientes, principalmente com os adultos, vem acompanhado de estranhamento. “Quando os pacientes veem os animais chegando ao hospital, começam a achar que se trata de algo sujo, ficam ressabiados. Por isso, contamos sempre com a ajuda de uma psicóloga, que vai esclarecendo como é o trabalho”, explica. Perdido o receio, é só festa. A autoestima aumenta, o clima de hospital ou de entidade assistencial desaparece e os benefícios surgem: vontade de viver, estabilidade emocional, equilíbrio e interação.

SAIBA MAIS

O uso de animais em processos de tratamento é conhecido como zooterapia e é praticado desde o século 18, quando, na Inglaterra, uma instituição já mantinha em seu pátio pequenos animais para o convívio com os doentes. Apesar disso, foi só na década de 60 que o psicólogo Boris Levinson, dos Estados Unidos, fez o primeiro estudo científico em que se analisou a interação de animais em processos terapêuticos. A zooterapia pode envolver pessoas de todas as faixas etárias para o tratamento de doenças ou distúrbios emocionais. Em vários países da Europa, já são utilizados, inclusive, animais silvestres. No Brasil, o uso se restringe a cães e a cavalos. Mais informações: www.ateac.org.br.



Fonte: COSMO




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