Médicos e pacientes estão descobrindo que o melhor amigo do homem pode ser também um excelente remédio contra diversas doenças mentais. Os cães, já muito utilizados como guias para deficientes visuais, têm ganhado um espaço cada vez maior em terapias alternativas. Nos Estados Unidos, desde 2001 o número de cães terapeutas triplicou. Em parte isto se deve à atuação de Joan Esnayra, uma americana de 42 anos que é portadora de transtorno bipolar - doença em que a pessoa alterna momentos de euforia e depressão. Joan fundou, em 1997, a Associação de Cães de Serviço Psiquiátrico. O projeto ajuda pessoas a treinarem seus animais e a brigarem por seus direitos de ir e vir acompanhadas de seu cachorro. Para Joan, os cães terapeutas são mais do que uma alternativa, são fundamentais.
ÉPOCA – Quantas pessoas já conseguiram treinar seus cachorros terapeutas com a ajuda da Associação de Cães de Serviço Psiquiátrico?
Joan Esnayra – Em nove anos, participamos da formação de 4.500 cães. As ajudas são das mais variadas, desde técnicas de adestramento até auxílio com as leis. Eu as ajudo a saber o que dizer quando alguém fala para elas no trabalho que não é permitido cachorro ali. Também ajudo médicos, advogados e políticos a lidarem com o tema dos cães de serviço psiquiátrico.
ÉPOCA – O que um cachorro precisa saber para ser um cão terapeuta?
Joan – O cachorro precisa ter um treinamento básico, para obedecer a instruções como sentar, ficar em pé ou deitar. Ele deve aprender a se comportar de modo apropriado em locais públicos, como ônibus, trens ou hospitais. Por fim, é importante que o cachorro seja treinado para atender às necessidades da pessoa que tem doenças psiquiátricas. Este é um tipo individual de treinamento que pode incluir muitas tarefas com diferentes níveis de dificuldade. Uma tarefa simples é o cachorro se manter parado e permitir que o doente coloque a mão em seu peito para verificar a respiração. Isto é importante porque assim a pessoa pode parear a sua respiração com a do cão e impedir que uma crise de Síndrome do Pânico, por exemplo, em que costumam ocorrer taquicardias e respiração irregular, avance e se torne grave. Tarefas mais complicadas são interromper episódios dissociativos, como quando alguém com esquizofrenia ou fobia fica desorientado, ou avisar à pessoa sobre a proximidade de uma crise antes que ela aconteça. Outra tarefa difícil é lembrar o dono de tomar a medicação nos horários certos.
ÉPOCA – Existem raças mais apropriadas para servir como cão terapeuta?
Joan – A maioria das raças é muito esperta. Inteligência, em geral, não é o problema. O mais importante é a personalidade do cão individualmente. Primeiro você precisa de um cão muito calmo. Por exemplo, se você está em um restaurante e alguém derruba um copo no chão, um cachorro calmo não deverá se mover nem latir. Se uma criança pisar em seu rabo, ele não pode ter nenhuma reação. É fundamental que o cachorro ouça seu dono. Um bom cachorro deve seguir a pessoa portadora de deficiências mentais em qualquer lugar, inclusive no banheiro. É necessário também ter um cão que não seja medroso. Ele vai precisar andar de elevador e ficar em locais com muita gente sem se incomodar. Um outro ponto é que o cão não pode ter uma gota de agressividade, nem mesmo com outros cachorros. Por fim, um cão terapeuta precisa ter uma energia de mediana para baixa. Eles precisam ficar muito tempo deitados próximos aos seus donos e um cachorro muito agitado não vai conseguir ser uma companhia agradável e tranqüilizadora.
ÉPOCA – O que um cão pode fazer para ajudar uma pessoa com problemas psiquiátricos como depressão ou esquizofrenia?
Joan – Para uma pessoa com depressão, ele pode fazer coisas como lembrá-la de tomar a medicação, fazê-la sair da cama e tomar ar puro, permitir que ela passe a mão em seu pêlo e demonstrar afeto quando a pessoa está triste. No caso de esquizofrênicos, os cães podem fazer tudo o que fazem para um depressivo e mais. Eles ajudam a distinguir realidade de imaginação, conseguem devolver a calma em momentos de crise, levam a pessoa para casa quando ela se perde e funcionam como uma barreira de proteção entre o esquizofrênico e outras pessoas.
Fonte: Revista Época
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